Normalmente, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) não seria assunto deste blog. Mas a 14ª edição da micareta dos intelectuais brasileiros –infelizmente, até onde sei, o evento não vende abadás– está tão politizada que o “primeiramente, fora Temer” virou uma espécie de “vai, Corinthians!” dessa gente esquisita que lê livro. Até o editor da “Ilustríssima”, que mediou o debate de Marcelo Freixo e Samuel Pessôa, foi alvo de gritos de “coxinha” da plateia mortadela-gourmet.
Na quinta (30), a poeta Laura Liuzzi leu um dos poemas incríveis –no sentido etimológico– do presidente interino (“por que não paro?” e “por que prossigo?” devem ser as mesmas perguntas que os leitores dele se fazem) e disse que Temer “tem tanta legitimidade como poeta quanto tem como presidente”. Ou seja, ao que parece, tem sido um sucessor à altura do imortal José Sarney.
Aí o leitor interessado vai dar uma olhada na poesia do campo anti-Temer (num evento que, vale lembrar, homenageia Ana Cristina Cesar) e encontra coisas também incríveis como “sou filha da puta/da luta/a mesma que aduba esse solo fértil/a mesma que te pariu”. Tudo somado, sai-se com a impressão de que, no campo literário –e talvez nos outros–, mortadelas e coxinhas se merecem.